Os deputados da
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) vão começar a decidir, nesta
sexta-feira (17), se o presidente da Casa, Jorge Picciani, e os parlamentares
Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB, permanecerão presos.
Eles são investigados pela Operação Cadeia Velha, que apura crimes de
corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, e
foram detidos na quinta-feira (16), após decisão em segunda instância do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). Picciani, Paulo Melo e
Albertassi estão na Cadeia Pública de Benfica, onde também está o ex-governador
Sérgio Cabral.
Na quinta-feira, já havia mobilizações nas redes sociais para a
realização de um protesto nesta sexta-feira, em frente à Alerj, para pressionar
os deputados a votarem a favor da manutenção da prisão. O processo será
analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Alerj, que se reúne
às 13h para elaborar um parecer. A reunião da CCJ será presidida pelo deputado
Chiquinho da Mangueira, uma vez que o titular, Edson Albertassi, é um dos
presos na operação.
Em seguida, o parecer será submetido ao plenário da Alerj. Para
ser aprovado, o projeto precisa obter a maioria absoluta das cadeiras da Casa,
que são 36 votos.
Articulação
Parlamentares aliados de Picciani articulam uma forma de evitar
a continuação da prisão do parlamentar. A estratégia tem como base a decisão
recente do Supremo Tribunal Federal (STF) que, ao julgar o pedido de prisão do
senador Aécio Neves (PSDB-MG) feito pela Procuradoria-Geral da República,
decidiu que caberia à Casa à qual pertence o parlamentar a palavra final sobre
pedidos de prisão, afastamento do cargo e outras medidas cautelares.
Acusação
Segundo a Procuradoria Regional da República da 2ª Região, o presidente
da Alerj, Jorge Picciani, seu antecessor Paulo Melo e o segundo
vice-presidente, Edson Albertassi, formam uma organização que vem se
estruturando de forma ininterrupta desde a década de 1990. O grupo contaria com
a participação ainda do ex-governador Sérgio Cabral, que também foi deputado
estadual e já presidiu a Alerj.
Ainda de acordo com a Procuradoria, eles “vêm adotando práticas
financeiras clandestinas e sofisticadas para ocultar o produto da corrupção,
que incluiu recursos federais e estaduais, além de repasses da Federação das
Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro
(Fetranspor)”.
O Ministério Público Federal afirma que Jorge Picciani e Paulo
Melo receberam mais de R$ 112 milhões em propinas num período de cinco anos.
"Planilhas dizem para nós que, no período de 15 de julho de 2010 a 14 de
julho de 2015, foram pagos da conta da Fetranspor para Picciani R$ 58,58
milhões, e para Paulo Melo R$ 54,3 milhões. Desse dinheiro, parte foi paga a
mando de Sérgio Cabral. Havia um projeto de poder de enriquecimento ilícito por
muitos integrantes do PMDB Rio”, disse a procuradora Andréa Bayão Pereira
Freire.
O MPF identificou que a indicação de Albertassi para uma vaga de
conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE) pode ter sido uma manobra
para que a organização criminosa retome espaços perdidos com os afastamentos de
conselheiros determinados pelo STJ, e também uma forma de atrapalhar as
investigações, ao deslocar a competência para a apuração dos fatos e tirar o
caso do TRF2. Essa é a primeira vez em que uma investigação ligada à Lava Jato
é conduzida por um TRF.